3.2.06

Meu, nosso parque.

Há muito tempo que não ia ao parque.
Hoje voltei a visitá-lo.
Estava despido, árvores magras, bancos vazios, mas cheio de silêncio, cheio, cheinho.
Assim que passei o respeitoso portão de ferro, senti que algo havia mudado, foi como se subisse para umas mãos enormes que agora me levavam celestialmente por entre os troncos das árvores. Este não era o costumeiro parque.
Este era mais calmo, mais carinhoso, parecia até mais feminino. Parecia falar comigo a cada banco que surgia, e parecia fazê-lo com as vozes de outros colegas de um outro parque. Mas a cada banco que para trás ficava, eu sentia saudade.
Após mais uma curva e um tronco despido, avistei um perfil familiar. Era o Sr. Henrique.
Fazia tempo que não o via, já desde o outro parque.
O Sr. Henrique era um homem alto, semi-careca, na casa dos quarenta anos, e sempre elegante, mas sempre com um "olhar fixo no mais além". Foi tal e qual a descrição que a Dona Carminha havia feito dele a primeira vez que me contou a sua história, ainda antes de eu o conhecer.
Segundo ela, o Sr. Henrique nem sempre fora assim. Havia sido sempre muito reservado, mas "o seu olhar era um riso maior que o da boca". Mas, o Sr. Henrique havia amado... E este mas pareceu-me estranho.
Segundo me confidenciou a Dona Carminha, o Sr. Henrique, ainda nos tempos de estudante de Direito, havia perdido uma namorada, "futura noiva", da qual "gostava muito", num acidente de automóvel. Nunca ninguém os via zangados ou tristes, "eram o espelho da felicidade". Ela era uma moça simples, alegre e muito carinhosa, juntos faziam sempre a sua volta pelo parque, ...pelo outro parque.
Hoje, o Sr. Henrique tem os olhos "fixos no além", namorou outras moças, mas nunca se "fixou" com nenhuma delas. Segundo a Dona Carminha, o Sr. Henrique tinha o estranho hábito de todas as noites colocar um par de chinelos a mais na beira da cama. Uns chinelos novos, de senhora, como se esperando a fantasiosa Cinderela, cujos pés de tamanho exclusivo, neles encontrassem seu aconchegado refúgio.
Passei pelo Sr. Henrique e os seus lábios replicaram a minha salvação, mas os seus olhos apenas intervalaram o além.
Este parque é muito parecido com o outro, mas já não é o mesmo.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

pois... agr é o teu parque... e tu sabes uma coisa do sr henrique... e há silêncio... é o teu parque agr...

10:23 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

uma historia para pensar e repensar
um parque onde o amor e vvido
um parque de tristeza
um henrique distante
uma namorada extinta

8:55 da tarde  
Blogger Paulo Figueiredo said...

ainda bem que voltaste!

aquele abraço

7:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Lindo!mas triste...
o parque..o sr henrique..

11:39 da manhã  

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