1.9.05

A paixão de Cristo...

Hoje entrei no parque pela porta dos fundos, mesmo ao cantinho, onde estão os cedros e a fonte do repuxo. Gosto de entrar por aí em manhãs como esta, claras mas frescas, com um ar molhado mas saboroso que parece lavar-nos a cara. Adoro manhãs como esta.
Sempre que entro por alí, entro na ilusão de um dia ver um cervo ou uma corsa a beber da água fresca do regato. No fundo, o regato não passa de sobras de água que descaiem da fonte, mas em manhãs como esta, e com a erva verde, húmida e macia que tapeteia o chão, tudo parece mais, tudo parece melhor, tudo parece... sem o ser.

Hoje não me quis ficar pelos primeiros bancos. Não, nesses não, hoje não. Hoje quero ir mais além.

No sexto banco que passei, sentados, estavam o padre João e o engenheiro Luís. O padre João, levantando-se do banco, logo me fez Operação STOP - "Então meu paroquiano, andas por aqui? Não te tenho visto na missa. Por onde tens andado?" - O padre João era um padre novo, em idade e na paróquia. Era estimado por todos, sobretudo porque as suas acções eram coerentes com a sua palavra. Coerentes... Coerência... palavra tão nova.
Ainda mal me havia esquivado à autuação do padre João pelas minhas faltas cristãs, já o engenheiro Luís me dava o primeiro tiro - " Então e tu, acreditas na paixão de Cristo, que Jesus se tenha apaixonado pelos homens?"
Era óbvio que estavam a atirar-me para o meio de um batalha, única bala para dois homens, um chapéu para duas cabeças, um juiz para dois condenados.
Anuí, - Sim, acredito.
- E acreditas que Ele ainda te ama? - recarregou novamente o engenheiro.
Fiquei parado, mudo, em silêncio, a pensar no que poderia, ou não ter mudado.
Ainda antes que eu pudesse ter qualquer reacção, já o engenheiro Luís encostava a bola no fundo das redes - Viu padre?! É como eu lhe digo, uma coisa é paixão, outra é amor. A paixão é o primeiro olhar, o desejo, a conquista, a descoberta. O amor é o depois. Depois da descoberta. Já não há fogo, há calma; já não há desejo, há preocupação; já não há conquista, há manutenção."
O padre e eu ficamos à espera da bola voltar ao meio campo, mas ele ficou lá, na baliza, pondo ela no berço das redes:
- Cristo teve paixão por nós, sim, padre. Teve muita, até demais. Mas não pôde ter amor...

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

adorei esta distinção entre amor e paixão! um mimo mm! ;)

3:18 da tarde  
Blogger Paula said...

Cristo tb teve amor...

4:16 da tarde  
Blogger Nina said...

Sensivel a tua maneira de escrever...Gosto :)

Beijinho

9:05 da tarde  
Blogger mar revolto said...

Olá,
Obrigada pela tua visita e oelas tuas palavras..., gostei muito deste espaço, voltarei!
Beijo

12:47 da manhã  
Blogger Fallen_Angel said...

olá...
gostei mt deste texto
espero q as (...) digam q vai haver continuaçao :O) nao pode ficar por aki :op

tb devia ter tido amor....

1:14 da tarde  
Blogger Fallen_Angel said...

ups.. ja me ia eskecendo

bom fim de semana e bjinho

1:14 da tarde  
Blogger Paulo Figueiredo said...

gostei,
estás no bom caminho!!! ;)

"já não há conquista, há manutenção" vai para o meu disco rígido

aquele abraço

1:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Venho em visita guiada, primeiro para agradecer a tua opinião, depois para agradecer estas lindas palavras. Gostei bastante, além de estar escrito de uma maneira irrepreensível, que inveja tenho de pessoas que escrevem assim!

Passa por aqui e dá a tua opinião a este romance de pé descalço, diz mal põe os defeitos que te apetecer, porque mesmo assim, ficarei grato por críticos como tu!

http://nietzsche.blogs.sapo.pt/main.html

4:19 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Posso terminar aqui, ou continuar, mas advirto os leitores mais atentos, que todos os movimentos narrativos se vão engalfinhando de tal forma que, principalmente para mim, seria preferível terminar neste ponto, porque farão um juízo totalmente diferente do narrador a partir daqui, pela sua agressividade contida nas cenas que se desenrolarão... Que poriam, qualquer dos seguintes filmes; Emmanuell, Último Tango em Paris ou Atracção Fatal, perfeitamente escandalizados com a sua continuidade. No entanto, ficará ao vosso critério mediante comentário plausível pela continuação do mesmo, ilibando desta forma, qualquer má interpretação gerada pelo narrador. E muitíssimo obrigado pela vossa disponibilidade por me terem lido. Não havendo qualquer alusão nos comentários considera-se aceitação total para o desenrolar da história ficando o narrador livre de lhe dar continuidade com o fim a que se propôs! Mesmo que não comentem, entendo. Entendo o cérebro humano perfeitamente, levando por vezes a um entendimento unicamente puritano, fazendo parte integrante apenas nos vossos pensamentos imaginários, recalcando assim, os seus mais primitivos instintos sexuais...

Abraços

9:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Obrigada pela visita, volte sempre que quiser! Beijos!

6:45 da manhã  

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